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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fotoclube do Alto Tietê estreia "Ojú Odara" na Semana da Consciência Negra em Poá

A fotografia mostra um rosto estilizado esculpido sobre uma parede de textura arenosa, com algumas partes encobertas por húmus verde-escuro, sobre o qual se destacam os olhos bem juntos e ligeiramente caídos. Essa figura está entre outras que adornam antigos bebedouros. Cada uma delas tinha um significado embutido e a ideia era bombardear a mente dos escravos com mensagens subliminares. Esta com os olhos bem acentuados, remetia à "eterna vigilância", mas hoje é um dos valiosos vestígios do Sítio Arqueológico de São Francisco - uma antiga fazenda no litoral paulista que, diz a lenda, teria pertencido a um cruel proprietário de escravos.
Ojú

A Semana da Consciência Negra é um período dedicado à reflexão sobre à participação do negro na construção da nossa identidade; e culmina no dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares (1695), para que nos espelhemos na sua resistência à toda forma de escravidão.

"Entre estas formas de escravidão está a nossa submissão à ditadura midiática que pouco a pouco nos distancia da incrível herança cultural deixada por nossos ancestrais", diz Tina Andrade, jornalista inclusiva e curadora da exposição Ojú Odara que está entre as opções culturais oferecidas na Semana da Consciência Negra pela Estância Hidromineral de Poá.

"Ojú Odara" é uma expressão do Yorubá, língua africana, que significa "olhos bons" - no sentido de ser capaz de encontrar a beleza; traduzindo a habilidade dos fotoclubistas do Alto Tietê em capturar com suas câmeras, recortes da cultura de nosso povo; nossa visão de mundo.  

A mostra é composta de vinte obras dos fotógrafos Carol Santos, David Oliveira, Fernanda Geggus, Hendi Ducarmo, Hisao Shirabiyoshi, Jonny Ueda, Lu Araújo, Matheus Sant'Anna, MLoudes da Silva,  Nilson Siqueira, Pádua e da própria Tina, que preside esse coletivo que cumpre a missão de "recuperar, preservar e difundir a memória; assim como resgatar valores dispersos e cidadania através do exercício do 'olhar fotográfico'." 

As fotos revelam a cultura negra presente no ritmo da Congada, do Moçambique e do Maculelê, o gingado na Capoeira, as festas religiosas e pagãs, mas também o grafite e outras "aventuras visuais antropológicas", como assim classifica Jonny Ueda, fotógrafo premiado e diretor do Fotoclube, que se inspira nos legados de Marc Ferrez e Pierre (Fatumbi) Verger, para falar da importância deste trabalho: - "Além de documentar o patrimônio cultural, artístico, histórico e paisagístico das cidades do Alto Tietê, nosso coletivo é muito respeitado pelas ações inclusivas; nossas exposições são acessíveis até mesmo às pessoas com deficiência visual ou cegueira", conclui. 

Ojú Odara poderá ser vista na Praça dos Eventos e terá uma versão áudio-descrita para pessoas com deficiência visual. Para saber mais visite o site www.fotoclubedoaltotiete.art.br ou participe das reuniões quinzenais.